3 de agosto de 2011


Naquele momento nada mais importava. Ela já sabia disso, apenas relutava em admitir. Reconhecer que nada mais em sua vida tinha sentido, ou valor. Não havia mais nada pelo que lutar. Não havia ninguém para quem sorrir, ainda que soubesse que não tinha o mais belo dos sorrisos, gostava de sorrir pra ele. Mas nada mais restava naquela tarde. Apenas a xícara de chá, que assim como ela, estava vazia. Vazia de perspectivas, de sentimentos. Não havia sobrado mais nada. Passara a tarde toda chorando, e com as lágrimas, todos os sentimentos foram embora: a dor, arrependimentos, tristeza, os sonhos, os planos, sorrisos, beijos, abraços, lembranças ... Tudo havia sumido, deixando na pequena mulher apenas um grande vazio, um vazio maior que qualquer buraco já existente, que a impedia de viver, aliás, nem vontade tinha. Queria apenas dormir, ou não, não importava, já que nada mais sentia, poderia passar toda sua vida medíocre sentada naquela poltrona velha, com a mesma xícara vazia na mão. E preferia sentir-se assim, desabitada de tudo. Não mais queria sentir. Sentimentos lhe custaram muito, lhe custaram um coração, propriamente dizendo, lhe custaram seu sorriso, e até aquele brilho nos olhos que há muito não se via. Ela preferia estar assim, só de tudo, só de todos. Ela escolhera a solidão para si, aliás, abraçou-a. Daquele momento em diante , essa seria sua única companheira, a única capaz de não fazê-la sofrer, porque era o que desejava, antes a apatia, do que sentir aquela dor lhe queimando por dentro. E assim, com sua companheira de sempre, ele sobreviveria às tardes inteiras em sua poltrona, sobreviveria aos pensamentos e sentimentos esquecidos, trancafiados em um lugar tão profundo que se tornara inatingível. Um lugar onde estava sua própria essência, abandonada. Um lugar que nem mesmo ela saberia definir, apenas havia deixado tudo lá, e assim permaneceria.

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